Notícias
Três pesquisas da UFPB na vanguarda da inovação científica na Paraíba
Um dos potenciais do conhecimento científico produzido nas universidades é servir como pólo de inovação, gerando soluções com impacto social, a exemplo da busca de alimentos mais saudáveis ou com produção mais sustentável. Essas instituições de ensino são peças-chave em programas como o Catalisa ICT, desenvolvido pelo Sebrae em parceria com Instituições de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICTs) brasileiras, entre elas a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), para impulsionar a transferência de tecnologias desenvolvidas no meio acadêmico.
No programa Catalisa ICT – Ciclo 02, cujo resultado foi divulgado no último mês, três pesquisadores da UFPB foram os únicos selecionados na Paraíba, em uma lista de 316 proponentes que tiveram planos de inovação escolhidos em todo o país. Cada pesquisador da UFPB terá um apoio financeiro do Sebrae de R$120 mil para custear o desenvolvimento de seu plano de inovação, durante o período de nove meses.
Uma das iniciativas é conduzida pelo professor Darlan Azevedo, do Departamento de Engenharia de Produção da UFPB. Em um projeto multidisciplinar que tem como principal parceiro o Laboratório de Ambiente Recifais e Biotecnologia com Microalgas (Larbim), vinculado ao Departamento de Sistemática e Ecologia, Darlan e outros três docentes buscam desenvolver um alimento funcional e sustentável, à base de óleo de coco enriquecido com bioativos de microalgas.
Essa ideia já foi protegida por meio de uma patente concedida à universidade recentemente, por meio da Agência de Inovação Tecnológica da UFPB, a Inova. Os quatro pesquisadores envolvidos no plano de inovação pretendem gerar novas tecnologias, expandindo possíveis usos dessa combinação do óleo de coco com microalgas. “O que propomos fazer é um aprimoramento da tecnologia para novos produtos, a partir da patente já depositada”, explicou Darlan.
Outra docente envolvida no estudo é Cristiane Sassi, coordenadora do Larbim, o segundo maior laboratório de microalgas do Brasil, abrigando mais de 720 linhagens de algas, a exemplo da Spirulina e da Chlorella. Essas serão as duas cepas utilizadas no plano submetido ao Catalisa ICT, por já serem reguladas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o consumo humano.
Cristiane informou que essas duas variedades, entre outras microalgas, produzem compostos bioativos de grande valor, como é o caso do ômega 3. Esses bioativos extraídos das microalgas potencializam os benefícios do óleo de coco, gerando um produto atrativo para as indústrias de alimentos e de cosméticos.
De acordo com o professor Darlan, para a proposta do Catalisa ICT, a mistura de microalgas com óleo de coco está focada no setor de alimentos, mas pode ser aplicada para a formulação de cosméticos na indústria farmacêutica. Assim, podem surgir hidratantes, cremes antienvelhecimento ou com função fotoprotetora. Tudo depende dos testes que serão realizados em laboratório, para acionar bioativos dessas microalgas, de acordo com o efeito desejado.
O objetivo, durante esta fase do Catalisa, é realizar testes para viabilizar e preservar os bioativos – como o ômega 3 citado – no óleo de coco e buscar inserir no mercado o novo produto, que ainda não tem nome. A expectativa é de que a nova tecnologia seja incorporada por alguma empresa, que pode ser uma startup ou uma empresa já consolidada. Para Darlan Azevedo, o projeto tem chance real de enriquecer a trajetória da UFPB em termos de inovação, servindo como uma referência positiva para a comunidade acadêmica.
“O projeto serve como exemplo do que pode ser alcançado quando se alinham pesquisa avançada, proteção de propriedade intelectual, vínculo com o mercado e demandas reais da sociedade. Esse tipo de reconhecimento estimula doutorandos, mestres, professores e até futuros projetos a buscarem inovação efetiva, e ajuda a consolidar a UFPB como referência estadual e nacional nesse campo”, enfatizou.
Outra pesquisa na área da indústria alimentícia é coordenada por Cinthia Guedes, docente do Departamento de Nutrição da UFPB e líder do grupo de pesquisa “Nutrição clínica, dietética e aplicada”. Por meio do Catalisa ICT – Ciclo 02, o grupo vai desenvolver o plano de inovação “Biotecnologia aplicada à saúde: Inhame-da-costa (D. cayennensis) para o controle glicêmico”, focado no desenvolvimento e na otimização do macarrão de inhame.
A pesquisadora destacou a satisfação da equipe envolvida com o projeto face o resultado obtido no edital nacional, como uma das três únicas propostas selecionadas na Paraíba. “Esta seleção ressalta a importância do apoio à pesquisa e ao desenvolvimento, incentivando a colaboração entre diferentes áreas do conhecimento e fortalecendo a cultura de inovação na instituição”, comentou.
O estudo envolve diversos laboratórios, de vários centros de ensino dos campi de João Pessoa e de Bananeiras, a exemplo do Laboratório de Pesquisa em Saúde, do Centro de Ciências da Saúde, e o Laboratório de Nutrição e Análises Avançadas de Alimentos, do Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias. Durante os nove meses do Ciclo 02, o grupo vai realizar testes que incluem a etapa de avaliar a aceitação e a repercussão glicêmica do novo produto por consumidores, ajustando o processo de produção para garantir a qualidade e a funcionalidade do macarrão.
Entre os três planos selecionados, figura ainda o sócio de uma startup incubada desde o ano de 2021 na UFPB, a YBY Startup. Carlos Carvalho é egresso do curso de graduação em Ciências Biológicas e do Doutorado em Biotecnologia da UFPB. Por meio do programa Catalisa, ele propôs o plano “Recomendação Inteligente de Bioinsumos Agrícolas”, que será executado na YBY por uma equipe da qual fazem parte professores, alunos e egressos da universidade.
Nessa etapa do Ciclo 2 do Catalisa, o grupo vai concentrar esforços em validar e aprimorar a solução que está sendo desenvolvida, processo que inclui testes em campo e em laboratório e coleta de feedback junto a parceiros estratégicos. A ideia é criar uma solução que integra análises laboratoriais avançadas e ferramentas digitais para oferecer ao produtor rural recomendações mais precisas e sustentáveis no manejo agrícola, de forma prática e acessível.
Uma solução tecnológica que, segundo o sócio da YBY, demonstra a força da universidade como polo de geração de conhecimento e inovação. “O resultado [do edital Catalisa] reforça o papel estratégico da instituição na transformação do setor produtivo e mostra a capacidade de seus estudantes, professores e egressos em transformar pesquisa de qualidade em soluções aplicadas”, destacou.
O programa do Sebrae – O edital do Catalisa ICT estava aberto a alunos de pós-graduação, mestrandos e doutorandos, mestres e doutores de ICTs públicas e privadas brasileiras, e a pequenos negócios de base tecnológica. A Etapa 02 é a fase da interação dos pesquisadores com incubadoras, aceleradoras, parques tecnológicos e investidores, para que os projetos de inovação sejam estruturados e aprovados, ficando aptos a avançarem para submissão à próxima fase, por meio de novo edital. A terceira e última etapa do Ciclo 02 – Inovar – busca a transferência de tecnologia para empresas.
* * *
Texto: Milena Dantas
Fotos: Milena Dantas e Divulgação/Larbim/UFPB