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Conheça a trajetória do cientista da UFPB que é o único físico paraibano a integrar Academia Brasileira de Ciências

publicado: 08/07/2025 16h56, última modificação: 08/07/2025 18h09
Para celebrar Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico, conversamos com o professor Valdir Barbosa Bezerra, com 50 anos de atuação na UFPB

Dia do Pesquisador: conheça a trajetória do cientista da UFPB que é o único paraibano a integrar Academia Brasileira de Ciências

No caminho entre a escola e a volta pra casa, a janela de um vizinho sempre chamava a atenção de Valdir Barbosa Bezerra, à época uma criança em Sapé, interior da Paraíba. Lá podiam ser vistos microscópios e uma série de livros, atiçando a imaginação do menino. “Era a casa de José Farias da Mata, cientista, funcionário público que prestava assistência aos agricultores locais. Depois tornou-se professor da UFPB no campus de Areia. Ele montou um laboratório no primeiro quarto da casa, eu passava lá e ficava muito curioso. Um dia, ele mandou eu entrar e então comecei a frequentar o lugar, manipular o microscópio, ver os livros que ele tinha, fazer classificação de insetos”, relembra Bezerra. 

Ele não sabia ainda, mas naqueles dias a ciência havia sido germinada nele, que completa neste semestre 50 anos de ensino e pesquisa junto ao departamento de Física da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), onde é professor titular desde 2005. Sua trajetória foi coroada de vez este ano, quando tomou posse como membro na Academia Brasileira de Ciências (ABL), sendo o único físico paraibano dentre os membros. Para celebrar o dia 08 de julho, data em que é comemorado o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico, conversamos com o docente sobre sua trajetória, como era fazer ciência no Brasil nos anos 1970 e como é hoje, além de suas perspectivas sobre o atual cenário.

Uma das principais mudanças notadas pelo docente na vida dos pesquisadores foi o impacto da tecnologia. A área dele é sobretudo a da Física Teórica, com ênfase em Relatividade e Gravitação. Ou seja, ele dependia menos que seus colegas de recursos vultosos e equipamentos caros para fazer pesquisa. Ainda assim, em uma época anterior à internet, era difícil obter acesso a novos lançamentos de livros e periódicos internacionais. “Precisava muitas vezes pedir para amigos do Rio de Janeiro mandarem livros e revistas de lá”, lembra. “Hoje, com a internet, você não só tem acesso a uma base de dados muito boa como também consegue se reunir com outros pesquisadores do mundo todo e trocar conhecimentos. Do ponto de vista da possibilidade de trabalhar, as possibilidades são muito maiores. Com as plataformas online, podemos conversar em tempo real, fazer mais parcerias, compartilhar informações”. 

Valdir Bezerra também ressalta o papel fundamental da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) na vida do cientista brasileiro. O Programa de Comutação Bibliográfica (COMUT), por exemplo, permitia que os pesquisadores solicitassem um artigo ou um documento e recebessem uma cópia. Nesse sentido também, desde 2000, a Capes lançou o Portal de Periódicos, biblioteca virtual que reúne e disponibiliza a instituições de ensino e pesquisa no Brasil periódicos de excelência internacional.

Apoio da família também é fundamental, segundo ele. Em seu caso, o pai fazia questão de lhe dizer que a herança que lhe era deixada era o conhecimento. Depois, ele próprio deu sua contribuição para a família, ajudando os irmãos que vinham estudar em João Pessoa. Um deles, inclusive, Celso Rozendo Bezerra Filho, tornou-se também professor, mas na área de Engenharia Mecânica, na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). 

O pesquisador se mostra satisfeito quanto ao rumo que a ciência brasileira tem tomado ao longo dos anos. “Existe o problema da descontinuidade no financiamento. Muitas vezes o investimento depende de quem está no poder, quando deveria ser uma política perene”, ressalva. “Mas estamos entre os países que mais publicam no mundo, de modo geral avançamos muito. Precisamos qualificar mais, mas em termos quantitativos estamos muito bem”. 

Seu recado para os jovens cientistas é de que a área envolve sacrifício, dedicação, mas o esforço é recompensado. “Para seguir carreira científica tem que se doar bastante, superar vários obstáculos”, alerta. Mas diz que é possível contorná-los, citando seu próprio exemplo, que saiu de uma cidade do anterior em que se podia estudar até a quarta série para estudar, inicialmente no Lyceu Paraibano, em João Pessoa, e, posteriormente, na UFPB.  “Acho que temos potencial grande para o desenvolvimento da ciência no Brasil, há jovens muito talentosos, não só nas hard sciences, mas também nas ciências humanas. É uma carreira que vale a pena ser seguida”. 

*A matéria foi atualizada às 18h09, do dia 8.7.25. Substituímos “único paraibano” por “único físico paraibano”. 

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Texto: Hugo Bispo
Foto: Arquivo Pessoal 
Ascom/UFPB