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Uso de hormônios para transição de gênero não configura risco para obesidade em pessoas trans, diz estudo da UFPB

publicado: 11/07/2025 13h38, última modificação: 11/07/2025 13h46
Conclusão veio de revisão da literatura, feita em parceria com a Unifesp e a UFBA
Uso de hormônios para transição de gênero não configuram risco para obesidade em pessoas trans, diz estudo da UFPB
Professor Sávio Gomes, do departamento de Nutrição da UFPB

Que impacto a terapia hormonal afirmativa de gênero tem no peso e na composição corporal das pessoas que passam por esse procedimento? Essa é uma dúvida e uma insegurança comum envolvida no processo, que consiste no uso de hormônios sexuais, com acompanhamento médico, para promover mudanças corporais que alinhem as características físicas de uma pessoa à sua identidade de gênero. 

Para responder a essa indagação, uma pesquisa da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA), reuniu dados de 29 estudos, de diversos países, com pessoas trans em uso de hormônios. A conclusão: as mudanças corporais ocorridas não indicam aumento nos indicadores de risco cardiovascular ou de obesidade, o que corrobora a segurança do processo, nesse aspecto.

“Este é o estudo mais abrangente e atualizado sobre os efeitos corporais da terapia hormonal em pessoas trans, com mais de 2.600 participantes”, diz o professor Sávio Gomes, do departamento de Nutrição da UFPB, coautor do estudo. O levantamento mostrou alterações que já eram esperadas: mulheres trans apresentaram aumento de gordura corporal e leve redução da massa muscular, enquanto homens trans tiveram redução de gordura corporal e aumento de massa muscular. Para ambos os casos, a circunferência da cintura não mudou significativamente. 

“Nossa revisão, no entanto, mostrou que esse uso de hormônios, apesar de conferir um aumento do peso e da massa corporal, não parece ser um fator que contribui significativamente para a obesidade. Isso reforça a segurança dos protocolos hormonais para pessoas trans”, diz o docente da UFPB. “Nossos resultados então podem orientar nutricionistas a entender como os hormônios influenciam a distribuição de músculo e gordura corporal em pessoas trans, uma vez que os nossos protocolos tradicionais são produzidos com base no sexo e não na identidade de gênero”, complementa.     

Vale ressaltar que, como a maioria dos estudos incluídos foi conduzida em países de alta renda, a generalização desses achados para contextos de baixa e média renda ou para populações etnicamente diversas é limitada. Sávio destaca que há uma epidemia de obesidade em curso em vários países do mundo, a qual afeta também pessoas trans. “Isso desafia os serviços de saúde a garantir um cuidado interprofissional, visto que a epidemia de obesidade está afetando as pessoas trans por outras vias, como ambientes e escolhas alimentares não saudáveis, reforçando a necessidade de que exista um acompanhamento nutricional no processo transexualizador do SUS”.

Para sanar essas duas lacunas e trazer a pesquisa para o contexto brasileiro, um grupo de pesquisadores, localmente coordenado por Sávio, está realizando um estudo nacional multicêntrico sobre a saúde da população trans que inclui variáveis sobre saúde geral e bucal, alimentação, estado nutricional e insegurança alimentar para entender as outras vias que não hormonais/biológicas que estão influenciando a saúde das pessoas trans.

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Texto: Hugo Bispo 
Foto: Arquivo Pessoal
Ascom/UFPB