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Três em cada quatro comunidades de mamíferos não-voadores da caatinga perderão espécies até 2100, aponta pesquisa da UFPB

publicado: 13/05/2025 19h00, última modificação: 13/05/2025 19h00
Conclusão preocupante é de dissertação de mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas, na linha de Zoologia.

Três em cada quatro comunidades de mamíferos não-voadores da caatinga perderão espécies até 2100, aponta pesquisa da UFPB

Maior que qualquer país da Europa Ocidental, a caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro que ocupa 70% do território do Nordeste, além de parte do norte de Minas Gerais. Ainda assim, por conta das mudanças climáticas e da exploração econômica predatória, ao longo do tempo, a caatinga já perdeu 50% de sua cobertura natural. Persistindo esse fenômeno, as consequências serão graves, sobretudo para a fauna do bioma: até o ano de 2100, haverá uma redução no número de espécies em três a cada quatro comunidades de mamíferos não-voadores. Essa foi uma das conclusões da dissertação de mestrado “Efeitos das mudanças climáticas sobre a diversidade de mamíferos não-voadores da Caatinga”, defendida em 2022 por Gibran Anderson Oliveira da Silva, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da UFPB, na linha de Zoologia. 

Na pesquisa, Gibran usou modelos matemáticos para prever como se daria no futuro a distribuição de espécies na caatinga, de acordo com estimativas sobre as variações climáticas e do uso da terra que devem ocorrer nos próximos anos. Assim, ele concluiu que quanto maior o aumento da temperatura e a diminuição da quantidade de chuvas, assim como o desmatamento e a urbanização de áreas ocupadas pelo bioma, maior será a extinção local de mamíferos não-voadores dentro de suas comunidades. 

O pesquisador destaca que um dos resultados desse processo de diminuição da diversidade de espécies em comunidades de mamíferos da caatinga é o empobrecimento biológico e funcional dessas comunidades, de modo que espécies mais comuns e mais adaptadas às atividades humanas prevalecem e as espécies especializadas e mais sensíveis aos impactos humanos desaparecem. Gibran alerta sobre os riscos ambientais decorrentes desse cenário: “Isso empobrece a diversidade ecológica e funcional dos ecossistemas tornando as comunidades mais redundantes e podendo afetar ciclos biogeoquímicos, como o ciclo da água, e a manutenção de ambientes florestais”, diz.  

Para além disso, há também os efeitos econômicos causados pela degradação da caatinga: “Milhões de pessoas dependem diretamente da Caatinga para agricultura familiar, pecuária de pequeno porte, coleta de produtos nativos como umbu, mandacaru, mel, madeira e plantas medicinais. Esses produtos da sociobiodiversidade da Caatinga têm alto valor de mercado, para produção de óleos essenciais, frutas nativas e extratos vegetais — com potencial para gerar renda com baixo impacto ambiental”, explica o biólogo.  

Ele acrescenta ainda que a conservação do bioma é estratégica inclusive pelo potencial de desenvolvimento científico que ele apresenta ao país, sendo um “laboratório vivo” para o

desenvolvimento de tecnologias agrícolas adaptadas à seca, o que se torna fundamental para a criação de soluções em um contexto de mudanças climáticas. 

Mas seria possível reverter ou pelo menos amenizar esse cenário? Apesar dos imensos desafios, o pesquisador sugere que sim. Para ele, a preservação da Caatinga passa por uma mudança profunda na forma como nos relacionamos com a natureza e uns com os outros. “A natureza, por si só, regulou o clima da Terra por milênios. Agora, precisamos agir coletivamente e de forma imediata para transformar os impactos que causamos ao clima, à biodiversidade e à nossa própria espécie”, defende.

Entre as soluções apontadas por ele estão a articulação entre poder público, setor privado, comunidades locais e a ciência, com destaque para o fortalecimento de lideranças comunitárias e a adoção de modelos de gestão ambiental colaborativa — como os que já vêm mostrando bons resultados, como acontece na Amazônia e no programa Nexus Caatinga.

A pesquisa, cujos resultados já foram publicados, ganhou, segundo Gibran Oliveira, alguns reconhecimentos, como constar na lista oficial do Prêmio de Pós-Graduação 2023 da FindPhD e ter ganhado o Prêmio Descabornário (2023) pelo Climate Reality Project Brasil.

O pesquisador destaca o apoio recebido pela UFPB e seu Laboratório de Ecologia Aplicada e Conservação (LEAC), que reuniram condições propícias para o desenvolvimento da pesquisa, além de permitirem um intercâmbio entre os pesquisadores.  A dissertação teve orientação do professor Bráulio Almeida Santos e coorientação do professor Mário Moura.

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Texto: Hugo Bispo
Foto: Andressa Fraga
Ascom/UFPB