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Pesquisa da UFPB propõe caminhos para uma educação antirracista na primeira infância, na Paraíba
Proporcionar um ambiente educacional inclusivo, inspirador e acolhedor são objetivos essenciais quando se deseja criar um espaço que garanta às crianças além do acesso escolar, a permanência e o êxito. Para isso, superar desafios como o racismo na escola é crucial na construção de identidades étnico-raciais positivas nas crianças e ultrapassagem de obstáculos associados à discriminação, como queda no desempenho escolar, problemas de saúde mental e dificuldade nas relações sociais das crianças.
Na Paraíba, entre os anos de 2021 e 2024, o projeto de pesquisa “Racismo e Infâncias: Impactos, Desafios e Perspectivas na Educação Paraibana”, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), ampliou a produção do conhecimento científico sobre o enfrentamento do racismo na educação infantil paraibana e resultou em proposta de aplicação prática que contribuiu com a formação crítica e antirracista de profissionais da educação do estado, em apoio à Secretaria de Estado de Educação.
O estudo teve como objetivos principais mapear e analisar pesquisas sobre educação das relações étnico-raciais e infâncias negras nos Programas de Pós-graduação em Educação da Paraíba, e propor caminhos para o enfrentamento do racismo nas práticas educativas, especialmente na formação de profissionais da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental do estado.
A pesquisa foi coordenada por Diego dos Santos Reis, professor do Departamento de Fundamentação da Educação, do Centro de Educação (CE). O projeto integrou o Programa Primeiros Projetos (PPP) da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (Fapesq – PB), bem como fez parte do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/UFPB) e atualmente está inserido no Programa de Bolsas de Extensão (PROBEX) da universidade.
Os resultados apontaram para lacunas na formação docente na Paraíba, mas também evidenciaram práticas de enfrentamento ao racismo nas instituições educativas e pesquisas engajadas já existentes.
“O diagnóstico permitiu discutir os desafios e avançar na construção de referenciais para práticas antirracistas na educação pública paraibana, somados às ações já existentes em diversos espaços formativos e levadas adiante por outros grupos, como o Práticas Educativas Griot, também da UFPB e coordenado pela professora Ana Paula Romão, e o Grupo Capoeira Angola Palmares - Roger, coordenado por Mestre Dário Pereira e Mestra Malu Farias”, explicou Diego Reis.
A pesquisa foi desenvolvida com atuação de alunos bolsistas e voluntários, além da participação de professores, pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação membros do Travessias – Grupo de Pesquisa em Filosofia e Educação Antirracista (CNPq/UFPB), que desenvolve uma série de projetos comprometidos com a educação antirracista desde a primeira infância.
A metodologia deu-se por meio do levantamento da produção científica relativa ao racismo e à Educação das Relações Étnico-raciais, especialmente direcionada às infâncias, para apontar os trabalhos desenvolvidos no estado da Paraíba nos últimos 20 anos. O trabalho incluiu revisão de literatura, análise documental e a elaboração de uma cartilha educativa, voltada à formação continuada de educadores da rede pública de João Pessoa.
Resultados práticos
A ação de formação a partir da cartilha, segue sendo desenvolvida pelo Grupo em espaços educativos da capital paraibana, e já causaram impacto nas práticas educativas na formação antirracista de docentes e profissionais da educação.
A equipe realizou a distribuição de 500 exemplares da cartilha “Travessias para uma educação antirracista”. Docentes das redes pública e privada participaram de oficinas formativas, rodas de conversa e do próprio grupo de pesquisa Travessias que se reúne, quinzenalmente, no Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro-brasileiros e Indígenas da UFPB.
“A cartilha tem sido trabalhada, inclusive, em turmas do ensino fundamental, junto aos alunos, como registrado por uma professora de uma escola pública de Gramame. Os resultados, sem dúvida, apontam para o debate de temáticas e questões fundamentais para reflexão crítica sobre os modos de combate ao racismo nos espaços formativos e a reconfiguração de projetos político-pedagógicos em perspectiva antirracista”, afirmou Diego Reis.
Para os pesquisadores, o estudo alcançou os objetivos com qualidade e densidade, resultando também em publicações científicas com 06 capítulos de livro e 06 artigos publicados, ações formativas junto à Secretaria de Estado de Educação, e na formação de uma biblioteca antirracista que agrega mais de 200 obras que tratam das relações étnico-raciais, literaturas negras e indígenas, história e cultura africana e afro-brasileira.
A biblioteca antirracista fica localizada no ambiente 8, do Centro de Educação (CE) no Campus I da UFPB e pode ser acessada pelo público mediante agendamento pelo e-mail diegoreis.br@gmail.com.
Para Diego Reis, a atuação da UFPB em pesquisas contra o racismo na infância é de extrema importância, pois o racismo causa impactos profundos na vida das crianças, jovens e adultos, sendo essencial que as universidades públicas assumam um papel protagonista na produção de conhecimento, na formação, e na proposição de políticas públicas que combatam essas desigualdades e discriminações.
“Além disso, a UFPB tem um compromisso social com a promoção da equidade racial e da justiça social, conforme previsto em sua missão institucional. Assim, investir em pesquisas nessa área fortalece a universidade como espaço de resistência, transformação e promoção de uma sociedade mais justa”, afirmou Reis.
O projeto faz parte de uma série de pesquisas voltadas à formação docente em consonância com o disposto pela Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino de cultura e história afro-brasileiras nas redes pública e privada do país. Outras pesquisas conduzidas no âmbito do grupo Travessias (CNPq/UFPB) seguem em curso, com temáticas voltadas às pedagogias negras, contracoloniais e interseccionais.