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Estudo da UFPB associa agrotóxicos a danos no DNA de trabalhadores rurais na Paraíba

publicado: 12/06/2025 11h05, última modificação: 12/06/2025 11h05
Foram identificadas alterações celulares e fragmentação do DNA, há indícios de que os agrotóxicos foram os responsáveis

Profa. Laís Gonçalves analisando o resultado do teste do cometa realizado pela aluna Glaucianne Andrade
Profa. Laís Gonçalves analisando o resultado do teste do cometa realizado pela aluna Glaucianne Andrade

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)  identificou, em estudo, que agricultores paraibanos expostos à agrotóxicos tiveram quase 3 vezes mais danos ao DNA, em comparação com grupo controle que não trabalha com pesticidas. O estudo foi composto por 33 agricultores diretamente expostos a pesticidas das cidades de  Itaporanga, João Pessoa, Mari, Pilar, Nazarezinho, Guarabira, Sousa e Pombal; e 29 indivíduos de um grupo controle não expostos a essas substâncias.

Aproximadamente 50% dos agricultores analisados apresentaram alterações celulares e danos ao DNA, como alterações nucleares e fragmentação do DNA; e há indícios de que, provavelmente, a exposição aos agrotóxicos possa ter sido a responsável por essas alterações. 

O estudo foi realizado entre os anos de 2022 e 2023 por pesquisadores dos Departamentos de Tecnologia Sucroalcooleira, e Departamento de Ciências Farmacêuticas da UFPB, sob coordenação da professora Laís Campos Teixeira de Carvalho Gonçalves, do Centro de Tecnologia e Desenvolvimento Regional (CTDR).

Aluna Patricianny analisando as amostras biológicas dos participantes
Aluna Patricianny analisando as amostras biológicas dos participantes

Os pesquisadores analisaram 2100 células da mucosa bucal de cada um dos 33 agricultores, submetendo as amostras a teste de micronúcleo em células bucais (BMCyt) e ensaio cometa para avaliar marcadores de genotoxicidade. No ensaio cometa os danos foram pontuados visualmente com base no tamanho e na intensidade da cauda do cometa nas células, que representa o grau de dano ao DNA. Quanto maior a cauda, maior o índice de fragmentação do DNA.

Além disso, os trabalhadores rurais participaram de entrevistas e responderam questionários nos quais foram identificadas informações sobre hábitos de fumar e ingerir álcool, histórico familiar de câncer, radiografias dentárias recentes, uso de equipamento de proteção individual (EPI), duração da exposição ocupacional a pesticidas, e os agrotóxicos específicos que utilizavam.

Os resultados apontaram danos maiores ao DNA dos agricultores com mais de 50 anos de idade e com maior tempo de exposição a pesticidas. De acordo com a pesquisadora Laís Gonçalves, os riscos futuros para quem apresenta alterações nucleares vão depender da quantidade, persistência e tipo celular afetado.

As alterações indicam danos genéticos ou celulares graves e podem estar associadas a risco aumentado de doenças, especialmente câncer, envelhecimento precoce e doenças degenerativas. Em nível celular, a maior parte dos efeitos são irreversíveis. Porém, esses danos não devem levar a alterações hereditárias, em se tratando de células somáticas", informou a pesquisadora.

O objetivo da pesquisa foi identificar os grupos de risco mais vulneráveis às consequências nocivas da exposição a pesticidas e conscientizar sobre os problemas de saúde associados ao uso indiscriminado dessas substâncias.

Segundo Laís Gonçalves, parte dos experimentos foram realizados no Laboratório de Biotecnologia e Bioprocessos (DTS-CTDR), por alunos de iniciação científica, a partir da padronização de métodos de excelente custo-benefício para a investigação de alterações genotóxicas, e contou com a colaboração do professor Juan Gonçalves do Departamento de Ciências Farmacêuticas, do Centro de Ciências da Saúde (CCS).

Aluno Lucas Monteiro realizando a coleta de amostras biológicas
Aluno Lucas Monteiro realizando a coleta de amostras biológicas

Também contribuiu com a pesquisa a professora Márcia Cezar (DTS/CTDR), que articulou parcerias junto a diversos órgãos como Ministério Público da Paraíba (MPPB), Associação dos Revendedores de Produtos Agropecuários do Nordeste (ARPAN), além do IBAMA e da Associação de Plantadores de Cana da Paraíba (ASPLAN), que proporcionou a aproximação junto aos agricultores participantes do estudo.

Em conjunto com as colaboradoras Marcia Pontiere, Solange Vasconcelos e Angela Queiroz (DTS-CTDR) , o grupo de pesquisadores criou o projeto Cultivo Limpo. “Um grande fruto do nosso projeto, que segue fornecendo orientações aos agricultores da Paraíba frente ao uso indiscriminado dos agrotóxicos e seus principais impactos na saúde e no meio ambiente”, explicou Laís Gonçalves.

Um artigo com os resultados da pesquisa foi publicado no periódico Environmental Toxicology and Pharmacology. A pesquisa foi realizada a partir de um projeto do Programa Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS 2021), financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB). Um novo projeto foi submetido e, caso seja aprovado, a pesquisa será continuada.

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Texto: Elidiane Poquiviqui
Fotos: Divulgação